No livro “O Valor do Amanhã” o escritor Eduardo Giannetti nos leva a refletir sobre as escolhas que somos levados a fazer na vida em termos de troca entre presente e futuro.

Fazemos escolhas a todo o momento e cada escolha implica numa renúncia que tem um “custo” também. Pagamos agora para viver depois ou vivemos agora para pagar depois? Queremos mais vida em nossos anos ou mais anos na nossa vida? Importar valores do futuro para desfrute imediato (posição devedora) ou remeter valores do presente para desfrute futuro (posição credora)?

Essas escolhas envolvem elementos emocionais como ansiedade, paciência, equilíbrio, maturidade e até mesmo ética. Os ciclos da vida que estamos vivendo também influenciam – infância, juventude, maturidade e velhice.

Diante disso somos levados a pensar que planejamento financeiro demanda estudo, objetivos definidos, organização, autoconhecimento, dedicação de algumas horas do nosso mês e disciplina. Ou seja, planejamento financeiro demanda educação financeira.

A educação financeira é muito mais do que simplesmente falar sobre dinheiro ou ficar apenas alimentando planilhas. Educação financeira é sinônimo de liberdade.

Ao vivenciar na plenitude os conceitos da educação financeira, as pessoas passam a valorizar a gestão e as escolhas conscientes, descobrindo que a conquista dos sonhos é mais rápida (e barata) quando feitas com planejamento. Educação financeira é valorizar os recursos, aprendendo a construir cada vez mais com menos.

A mudança ou ajuste nos hábitos é essencial para quem busca a educação financeira como um estilo de vida.

A transformação começa ao abandonar o consumo simplesmente por status, afinal a transformação da educação financeira nos apresenta um mundo real onde o bem-sucedido não se sente realizado por demonstrações ou ostentação, mas sim por conquistas pessoais.

A educação financeira abre portas para a construção de patrimônio. A avaliação periódica é importante, afinal o planejamento financeiro que funciona é aquele que constantemente é revisto e aprimorado.

Para iniciar um bom planejamento financeiro precisamos reunir as informações necessárias e dimensionar a real situação financeira e patrimonial:

.Identificar os sonhos e objetivos;
.Fazer uma lista com o que desejamos conquistar no curto, médio e longo prazo. Especificar e atribuir valor para cada um destes;
.Avaliar se os valores e horizontes de tempo atribuídos a cada objetivo são realistas;
.Reavaliar anualmente seu planejamento para ajustar os seus sonhos ao atual cenário econômico da família;
.Elaborar um plano para renegociar e eliminar suas dívidas;
.Economizar e investir pelo menos 10% de sua renda líquida mensal;
.Formar uma reserva de emergências capaz de sustentar sua família por determinado período sem depender de renda.
.Alguns erros estão mais presentes na rotina de quem utiliza o planejamento financeiro, isso é normal e faz parte do aprendizado. São eles:

Erro 1: Acreditar que só quem tem muito dinheiro precisa controlar as despesas

Esse é sem dúvida um dos erros mais comuns. As pessoas costuma dizer que o próprio salário é tão baixo, que não é possível nem mesmo desenvolver um bom planejamento financeiro.

Infelizmente, a verdade não é bem essa. Está mais do que claro que o que foge do controle das pessoas são os pequenos gastos, que repetidos em grande constância acabam corroendo o orçamento.

Erro 2: Não priorizar a necessidade de investir para realizar os sonhos

As pessoas não encaram os investimentos com a prioridade necessária. É comum conhecermos pessoas que passam a vida toda reclamando que nunca sobra (e nunca irá sobrar) recursos para investir.

Os investimentos devem ser o primeiro “gasto” da família. Logo, não podemos esperar para ver o que sobra. A regra deve ser: definir um percentual das receitas para seus investimentos e a partir de então adequar o seu padrão de consumo.

Erro 3: Não entender a diferença entre investimentos e reserva para emergências

Um bom projeto financeiro, leva em consideração a necessidade de manter uma reserva para emergências.

A reserva financeira tem um objetivo específico, até por isso não deve ficar junto dos investimentos.

Uma boa reserva para emergências deve ser o suficiente para manter o padrão de vida de uma família por pelo menos 6 meses.

Erro 4: Não perceber que os bancos nem sempre oferecem o que você precisa

O relacionamento das pessoas com os bancos é muito baseado na confiança. Saber que existem profissionais que cuidam do nosso dinheiro é importante, acontece que pouca gente parou para refletir que os bancos nem sempre oferecem às pessoas os melhores produtos.

Os gerentes bancários possuem metas agressivas e são muito bem remunerados quando conseguem atingi-las, mas, infelizmente, os produtos que eles oferecem são muito mais rentáveis para os bancos do que para seus correntistas.

Erro 5: Não valorizar a ajuda de profissionais na hora de fazer um bom planejamento

Se um dos erros das pessoas é supervalorizar o papel do gerente bancário, outro erro muito cometido e que prejudica os resultados do planejamento financeiro pessoal, é a pouca valorização dos profissionais que trabalham com esse assunto.

A regra é simples: bons profissionais custam caro, mas ter acesso a um trabalho bem feito no planejamento financeiro pode significar uma enorme economia de gastos ao longo dos anos. Um bom profissional poderá ainda indicar melhores investimentos, que farão toda diferença no decorrer do tempo.

A construção de um futuro abastado depende de sobras no orçamento. As sobras do orçamento dependem da disciplina no uso da sua renda. A renda, porém, depende de estabilidade em vários fatores: em seu emprego, em sua saúde, em sua condição emocional em seu patrimônio, dentre outros. Sendo ou não bem sucedido na organização dos aspectos de sua vida financeira não é preciso se esforçar muito para conseguir poupar. Viabilizar sobras de recursos é uma questão de escolha. Se você optar por viver um padrão um pouco mais simples do que sua renda total permite, estará criada a condição necessária para a poupança.

À partir do momento que em que conquistamos um grau razoável de equilíbrio em nossas finanças que nos permita desfrutar de uma prazerosa sensação de segurança, estabilidade e bem estar, nossa reação natural é nos preocuparmos com a continuidade desse estado. Vivemos em um mundo em que nosso conhecimento dobra a cada meia década. Com o passar do tempo, se dedicarmos atenção e focos a nossos objetivos, nosso conhecimento crescente nos levará a atalhos. Poderemos encontrar investimentos mais eficientes dos que escolhemos inicialmente ou, então, formas muito mais econômicas de viabilizar a viagem sonhos, planejada inicialmente a um custo maior. A reforma da casa poderá ser substituída pela entrada da casa nova, o curso no exterior poderá ser adiando em função da proposta de montar um negócio.

Se a vida muda, os planos devem ter alguma margem para serem mutáveis também. Só não devemos deixar de coloca-los em prática, pois, diante de um sonho novo, é melhor contar com a metade da verba de outro sonho do que começar do zero. Praticar planejamento financeiro é praticar autoconhecimento. Pessoas mais organizadas erram menos em suas escolhas.

Tratando-se de autoconhecimento ter uma lista de perguntas ajudam a definir alguns parâmetros. É bom repeti-las a cada dia de faxina nas contas:

Quantos anos você tem?
Quão seguro você se sente em ralação a sua renda obtida, tanto de seu trabalho, quanto de seus investimentos?
Daqui a quantos anos você espera contar com sua independência financeira, mesmo que parcial, para viabilizar a mudança em seu estilo de vida?
Quantos anos ainda espera viver?
Em seus investimentos, você prefere uma gestão própria ou contratar serviços de especialistas e gestores para lhe ajudarem?
Quais os objetivos de seus investimentos?
A partir de quando você espera contar com retiradas de dinheiro de sua carteira de investimento?
Quanta perda você seria capaz de absorver em sua carteira de investimentos, sem abalar sua estabilidade econômica e emocional?
Você continuará fazendo aportes adicionais em sua carteira de investimentos?
Quão confiante você está em relação a suas projeções de renda e gastos futuros?
Se você precisar aumentar a renda para atingir seus objetivos, isso será possível?
Quais decisões você tomou para proteger seu patrimônio e seu potencial de renda?

A prática de planejamento financeiro muda rotinas e o modo de pensar. Com o tempo começa a integrar a rotina e ser prazeroso. É como planejar uma tão sonhada viagem…

Leila Juliana Perottoni

Contadora, consultora financeira e perita contábil

Proprietária da Sintese Contabilidade – (54)3028.9055

Foto: Miriam Cardoso de Souza